A Síndrome de Down (SD) é uma condição genética que afeta diversas áreas do desenvolvimento, incluindo a visão. Aproximadamente 85% das crianças com SD enfrentam problemas visuais, o que pode agravar o atraso cognitivo, dificultar o aprendizado e prejudicar a qualidade de vida.
Um estudo realizado por Gritz et al. (2024) na APAE de Cascavel-PR revelou que mais de 60% das crianças com SD apresentam alterações oftalmológicas, com o estrabismo sendo uma das condições mais comuns, seguido de catarata congênita e obstrução das vias lacrimais. A boa notícia é que, com acompanhamento oftalmológico regular, muitas dessas condições podem ser tratadas de forma eficaz, prevenindo complicações futuras.
Principais Problemas Visuais em Crianças com SD
Em virtude dos problemas visuais, a interação das crianças com SD com o ambiente pode ser trabalhosa. Erros refrativos elevados (hipermetropia, miopia e astigmatismo), desalinhamento ocular (estrabismo) e/ou mau funcionamento de um dos olhos (ambliopia, ou “olho preguiçoso”), são as causas mais comuns e costumam ser identificados entre os 2 e 4 anos de idade (Lima et al., 2024).Quando diagnosticados precocemente (preferencialmente antes dos 3 anos de vida), intervenções adequadas – como o uso de óculos, tratamento oclusivo, exercícios ortópticos e/ou correção cirúrgica do desalinhamento ocular – podem restaurar um desenvolvimento visual saudável.
Catarata Congênita e Obstrução das Vias Lacrimais
Além dos erros refrativos, estrabismo e ambliopia, crianças com SD têm maior propensão a desenvolver catarata congênita ou precoce. Nessa condição, o cristalino se torna opaco, dificultando a passagem de luz e prejudicando a visão. A catarata pode ser unilateral ou bilateral, e sua gravidade variável. Em alguns casos, a intervenção cirúrgica é mandatória e urgente (Hoggan et al., 2019).
A obstrução do ducto nasolacrimal é uma condição comum em crianças com SD, provoca excesso de lacrimejamento e pode evoluir para infecções oculares. Em muitos casos, massagens na área afetada podem ser eficazes para resolver o problema, mas em algumas situações, é necessária intervenção cirúrgica (Matayoshi et al., 2003).
A Importância da Estimulação Visual Precoce
Outro ponto importante é a estimulação visual precoce dessas crianças, fortalecendo a função visual e promovendo o desenvolvimento cognitivo global (Sousa et al., 2020).
Para garantir que a criança com SD tenha um desenvolvimento visual saudável, é fundamental que os pais fiquem atentos a sinais como:
- Desvio dos olhos
- Dificuldade para focar objetos
- Excesso de lacrimejamento
Além das consultas regulares com o oftalmologista, podem ser realizadas atividades em casa para estimular a visão da criança, melhorando sua capacidade de aprender, interagir e se desenvolver de forma mais independente.
Consultas Oftalmológicas: Frequência e Importância
Consultas periódicas com o oftalmologista são essenciais para detectar e tratar problemas visuais em tempo oportuno. Assegure-se que seu filho tenha sido examinado por médico oftalmologista ainda na Maternidade e que mantenha seguimento periódico regular (semestral) ao longo dos primeiros 3 anos de vida.
Fique atento e invista no futuro visual do seu filho!
Referências
- Gritz, M., Silva, A., & Dias, F. (2024). Prevalência de manifestações oftalmológicas em pacientes com síndrome de down procedentes da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Cascavel-PR. Revista Multidisciplinar do Nordeste Mineiro. doi:10.61164/rmnm.v3i3.2183.
- Hoggan, R., et al. (2019). Cataract and its management in Down syndrome: A review of the literature. Journal of Pediatric Ophthalmology and Strabismus, 56(2):115-20.
- Lima, R., Silva, P., & Alves, J. (2024). Alterações oftalmológicas mais comuns observadas em crianças portadoras da Síndrome de Down: uma revisão narrativa. Studies in Health Sciences. doi:10.54022/shsv5n2-003.
- Matayoshi, S., Monteiro, M., & Santhiago, M. (2003). Síndrome de Down e alterações de vias lacrimais. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia. doi:10.1590/s0004-27492003000400016.
- Sousa, M., Ferreira, L., & Oliveira, T. (2020). O efeito da estimulação visual em crianças portadoras da síndrome de down. Research Society and Development. doi:10.33448/rsd-v9i12.10558.